02/12/2024

Lirismo, potência e diversidade saúdam os palcos no terceiro e último dia do 39º Fasc

A 39ª edição do Festival de Artes de São Cristóvão (Fasc) chega ao fim com shows históricos e a sensação de saudade de todas as experiências culturais e memórias afetivas que os três dias de festa proporcionam para aqueles que vivem o evento. Foram oito apresentações que animaram e emocionaram o público através de mensagens de empoderamento, protesto, amor, alegria e tantos outros temas que atravessam diretamente as vivências de cada um.

As atrações da noite foram iniciadas pela apresentação da banda Francisco, El Hombre, no palco Frei Santa Cecília, dando vida ao show “Hasta El Final”, turnê de encerramento do grupo que dará uma pausa indeterminada na carreira. Com hits como “Triste, Louca ou Má” e “O tempo é sua morada”, o show foi um dos mais catárticos da noite, encantando o público com a beleza da performance. 

Juliana Strassacapa, vocalista de Francisco, El Hombre - Foto/Dani Santos

Para Sebastián Piracés-Ugarte, um dos fundadores da banda, a experiência do Fasc foi muito especial, pois a troca com a plateia revitalizou os artistas, mesmo após o cansaço de shows consecutivos. “Já na passagem de som percebemos a energia contagiante do público. Quando iniciamos o show, a conexão foi instantânea e as pessoas estavam entregues, cantando do começo ao fim, lotando o espaço. Isso nos nutriu e encheu nossos corações de alegria. Esse festival é incrível, e me sinto honrado por finalmente fazer parte dele, especialmente depois de ouvir tantos elogios ao longo dos anos”, afirmou.

Mateo e Sebastián Piracés-Ugarte, fundadores da banda Francisco, El Hombre - Foto/Dani Santos

Enquanto Francisco, El Hombre encerrava sua performance, o palco João Bebe Água recebia sua primeira atração, com o orgulho de fortalecer um artista sancristovense. Joba Alves tocou músicas de Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, e fez todo mundo que assistia entrar no paço do forró. 

“Estou muito feliz por ter retornado ao Fasc depois de cinco anos. Na última vez que me apresentei, foi no Frei Santa Cecília, e agora voltar ao palco principal, no João Bebe Água, na Praça São Francisco, onde a nossa música enaltece a cultura de São Cristóvão, foi muito gratificante. Estou muito feliz, ainda em êxtase aqui. Me preparei bastante, e deu tudo certo, graças a Deus e à nossa equipe também”, comemorou o cantor.

Joba Alves - Foto/Heitor Xavier

Em seguida, a serenidade, sagacidade e lirismo de Arnaldo Antunes embalou o público com sucessos de várias fases de sua carreira, incluindo hinos da sua passagem pelas bandas Titãs e Tribalistas. Mais cedo, o consagrado artista já havia participado de uma roda de conversa no Salão de Literatura Manoel Ferreira, com sucesso de público para dialogar sobre poesia e multiculturalidade. Arnaldo celebrou em São Cristóvão o encerramento de sua turnê junto à banda, já que no ano seguinte lançará um projeto novo.

“Eu adorei poder, numa mesma cidade e num mesmo festival, falar um pouquinho de poesia à tarde e, à noite, cantar e fazer o show. Isso porque eu sou mesmo dessa mistura de linguagens e intensidades. Essa liberdade de transitar por várias áreas, religiões, modalidades de criação, faz parte do que eu sou. Gosto dessas misturas, e é muito bom estar em um festival onde posso atuar de formas diferentes. Isso reflete a minha vida como artista. Somos o que somos: inclassificáveis”, realçou o multiartista.

Arnaldo Antunes - Foto/Heitor Xavier

Acompanhando o show de Arnaldo Antunes, assim como todas as atrações musicais, quem se destacou foram os intérpretes de libras, que, além de trazer acessibilidade para que pessoas surdas aproveitem as apresentações, chamaram a atenção pela interpretação poética e teatral das palavras cantadas, inspirando a todo o público.

Foto/Heitor Xavier

Clinton Fearon, por sua vez, fez um show que, para muitos amantes de Reggae que não esperavam a oportunidade de assisti-lo ao vivo, foi um abraço na alma. Foi a primeira vez que a lenda jamaicana se apresentou em São Cristóvão, e suas décadas de experiência solo ou nas bandas The Gladiators e The Boogie Brown impactaram o público com sua expressão contra opressões e a favor do amor.

Clinton Fearon - Foto/Heitor Xavier

Ao refletir sobre a importância de tornar sua apresentação acessível a todos em um festival aberto como o Fasc, Fearon destacou que faz o que ama e segue seu coração há muito tempo, o que, para ele, é o começo da liberdade. Por isso, ficou muito feliz por participar do festival e ter esse contato com a plateia da Cidade Mãe.

Foto/Heitor Xavier

“Se apresentar no Brasil é maravilhoso, é como um casamento. Música é uma linguagem como o amor. Amor não vê nenhuma cor, nenhuma crença, ou nada parecido. São quatro coisas que precisamos: música, amor, comida e risada. Quando temos esses quatro elementos, estamos bem”, celebrou o artista.

Foto/Heitor Xavier

A banda pernambucana Mombojó continuou a animar o palco Frei Santa Cecília, embalando os espectadores no ritmo do manguebeat e com releituras dos clássicos de Alceu Valença. O vocalista Felipe S contou que o grupo buscou mesclar músicas menos conhecidas do cantor com outras mais famosas. “Alceu é um artista que admiramos muito, e também queríamos exercitar um lado que nunca tínhamos explorado. Sempre lançamos discos autorais, e esse foi o primeiro diferente dos outros”, descreveu Felipe.

Banda Mombojó - Foto/Dani Santos

Já o baixista Missionário José reforçou que participar do Fasc, para a banda, é uma honra, porque a memória e a continuidade de trabalhos com a cultura, com a história do Brasil, é sempre muito importante. 

“O Brasil é um país que trata muito mal a sua própria memória, e, para nós, é um privilégio poder estar aqui. Não conhecíamos ainda a cidade, que é linda. Nos sentimos muito em casa, porque lá temos Olinda, temos Igarassu, que são cidades que, assim como São Cristóvão, estão entre as mais antigas do Brasil. É muito legal iniciativas bonitas como essa, ver que não é necessário derrubar e construir o tempo todo para ter um lugar legal, onde as pessoas estão vivendo a cultura e tantas outras coisas”, ressaltou o músico.

Nêga Doce - Foto/Dani Santos

Na noite de domingo, outras atrações como Nega Dôce, projeto que reúne as cantoras sergipanas Lari Lima, Anne Carol e Morgana; Don L e Los Sebosos Postizos, projeto alternativo dos integrantes da banda Nação Zumbi, performaram nos dois palcos, fechando o festival e, assim como seu tema este ano, deixando a Cidade Mãe ainda mais viva.

Los Sebosos Postizos - Foto/Dani Santos
Don L - Foto/Heitor Xavier

Público

Para Gabriela Melo, produtora audiovisual, o último dia de Fasc é um momento em que o público se compromete a continuar se divertindo, já lamentando que só terá a experiência novamente no ano seguinte.

“Para mim, é sempre o melhor dia, porque eu quero viver como se fosse três dias em um só. É sempre muito bom encontrar amigos, encontrar todo mundo, e é num período de fim de ano, então a gente acaba encontrando várias pessoas queridas. Hoje, por exemplo, eu encontrei várias pessoas queridas de quinze anos atrás, no show da Mombojó. E o mais incrível é que tem muitos shows que só aqui eu consigo assistir. Como trazer a Marina Lima! Quarenta anos, e eu nunca pensei que fosse assistir a Marina aqui. Vocês estão fazendo história”, enfatizou.

Gabriela Melo - Foto/Clara Dias

Já Marilson Júnior, que também veio da capital para realizar o sonho de conhecer Clinton Fearon, um de seus ídolos do Reggae, foi muito especial aproveitar as apresentações. “Aprendi a escutar Reggae com meu irmão, que me apresentou a Clinton Fearon, e quando comecei a escutar nunca mais parei. Não é todo dia que podemos ver uma referência como ele em São Cristóvão, então foi uma oportunidade única e uma lembrança que vai ser guardada eternamente”, alegrou-se.

Marilson Júnior - Foto/Clara Dias

Gabriela Gois, sancristovense que mora em Aracaju, frisou que a série de shows foi uma oportunidade de movimentar a economia da cidade e trazer mais gente para São Cristóvão. “A minha avó, por exemplo, é uma artesã daqui, e esse é um momento que traz uma renda legal para ela, então para mim é maravilhoso”.

Gabriela Gois - Foto/Clara Dias

Sobre o Fasc

O Fasc é organizado pela Prefeitura de São Cristóvão por meio da Fundação Municipal de Cultura e Turismo (Fumctur), Villela Produções, o Ministério da Cultura e o Governo Federal, através da Lei de Incentivo à Cultura. Maratá, Estrella Galicia, Coca-Cola, Caixa Econômica Federal, Governo do Estado, Instituto Banese, MTur/Sesc, Banco do Nordeste e Correios patrocinam o evento, que também conta com o apoio da SE - Sistema Engenharia, da Colortex e da RR Conect.

Fotos: Heitor Xavier e Dani Santos

Publicado por Clara Dias
Fotos por Heitor Xavier
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