23/11/2025

Salão de literatura: Grandes encontros sobre poesia representam a resistência através da palavra neste sábado de Fasc

“Quem acende uma vela é o primeiro que se ilumina”. A frase de Teresinha de Paiva citada por Sérgio Vaz na terceira tarde do Salão de Literatura Manoel Ferreira no 40º Festival de Artes de São Cristóvão (Fasc) foi um indicativo dos diálogos abordados nas duas mesas deste sábado (22), em que a poesia foi apontada com tanta sagacidade e afeto como instrumento de transformação.

Com o tema “Extra! Extra! Também temos pedras aqui!”, a primeira mesa da tarde foi de Luiza Romão e Débora Arruda, sob mediação de Stella Carvalho. A conversa cheia de referências apresentou um pouco da trajetória de Romão, paulista, e de Arruda, sergipana e indígena, trazendo reflexões sobre suas interseccionalidades e experiências de como a escrita e o contato com a literatura moveram suas vidas.

Poeta, atriz e slammer, Luiza Romão é formada em Artes Cênicas e mestra em Teoria Literária e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo (USP), dedicando-se à pesquisa em poesia performática. Além disso, é autora dos livros “Sangria”, “Nadine” e “Também guardamos pedras aqui”, vencedor do Jabuti de Melhor Livro de Poesia e Livro do Ano. Já Débora Arruda é escritora, poeta, performer, atriz e pesquisadora dos estudos de performance. 

Luiza Romão e Débora Arruda

“Estar participando do Fasc para nós artistas sergipanos é maravilhoso, por ser um festival que diz muito sobre quem nós somos. A gente aprende quem a gente é e também constrói nossa identidade no Fasc. E ter esse intercâmbio com escritoras que já conhece e já ama é muito positivo e uma forma de celebrar a palavra”, destacou Débora Arruda. “É muito feliz estar voltando para Sergipe. Estive aqui em 2014, no Sarau de Baixo, e acho que estar aqui é um momento muito marcante na minha trajetória. Sempre fui muito fã dos poetas daqui e é muito bonito poder voltar 10 anos depois nesse festival tão incrível, com tantos espaços e linguagens, e poder compartilhar um pouco da minha poética”, completou Luiza Romão.

Em seguida, Xico Sá e Sérgio Vaz falaram sobre a “Palavra literária e ruptura – por um Brasil poeticamente livre”, com mediação de Allan Jonnes. A conversa trouxe ao centro da discussão a potência da palavra como melhoria coletiva e liberdade, temas que fazem parte da trajetória dos convidados e dialogam com o festival, dando espaço para que artistas locais pudessem mostrar também suas realidades.

Xico Sá é jornalista e escritor cearense, conhecido por suas crônicas bem-humoradas sobre política, futebol e comportamento. Atuou na Folha de S. Paulo e no Diário do Nordeste, e participou de programas como Saia Justa e Papo de Segunda (GNT), além de Cartão Verde (Cultura) e Amor & Sexo (Globo). Para ele, é vendo e se alimentando um pouco do outro que é possível quebrar preconceitos, barreiras, e estar mais aberto para ouvir e ser mais generoso, o que aconteceu na conversa da tarde. “Acho que a vida é um pouco essa arte do encontro, é a partir dessa ideia que você se torna um ser humano melhor, que você quebra aquele teu preconceito que estava meio arraigado”, afirmou.

Xico Sá

Ao seu lado, Sérgio Vaz, poeta, escritor e referência da cultura periférica, é fundador da Cooperifa e do Sarau da Cooperifa, importante centro cultural da Zona Sul de São Paulo. Autor de títulos como “Colecionador de pedras”, “Literatura, pão e poesia” e “Flores de alvenaria”, também criou projetos como a Semana de Arte Moderna da Periferia e o Poesia Contra Violência. 

“Essa oportunidade de leitores se encontrarem com seus escritores e trocarem ideias é muito importante. Para o escritor, esse olho no olho é essencial. Não adianta escrever para o povo e ficar longe do povo; a gente precisa sentir a reação, o brilho nos olhos, a crítica, o gostar ou não gostar. Foi maravilhoso, porque eu nem imaginava que encontraria tanta gente que gosta do meu trabalho. Precisei andar quilômetros para ver aqui no FASC pessoas que se identificam com o que eu escrevo, e isso me deixa muito feliz”, pontuou Vaz.

Sala Mangue Jornalismo

Por mais um dia, a Sala Mangue Jornalismo reforçou debates essenciais sobre comunicação ao promover uma roda de conversa dedicada ao tema Jornalismo e Memória, realizada dentro do Salão de Literatura Manoel Ferreira. A programação reuniu os autores Cristian Góes, coautor de “Borracha na cabeça: o golpe e a ditadura militar em Sergipe”; Gilson Sousa, autor de “Cleomar Brandi, uma vida inteira”; Jaime Neto, autor de “Araripe Coutinho: o escândalo queer que ninguém notou!”; e Lucas Heitor, autor de “Os homens não receberão flores”. Com mediação de Bruno Costa, o encontro evidenciou como as narrativas jornalísticas contribuem para preservar e reconstituir memórias individuais e coletivas, fortalecendo a compreensão crítica da história sergipana.

Público

Presente em várias das mesas apresentadas ao longo do festival, Wanderlan Porto, doutor em filosofia, achou a experiência fantástica, pois apresentou-o a novas perspectivas literárias. “Luiza Romão traz para a gente uma outra abordagem, uma visceralidade que traz na sua poesia e na sua escrita. Para nós foi um momento fantástico e as outras escritoras, outras poetas, também nos trouxeram uma força para a gente continuar, superar, suportar e sustentar o fim do mundo”.

Wanderlan Porto

Alciene Neves também estava animada com as rodas de conversa do dia e ressaltou o Fasc como um evento muito democrático e pulsante. “Essa possibilidade de você diminuir as fronteiras e conseguir estabelecer outras conexões é fundamental para o crescimento da arte. Essa conexão entre literatura, cinema, música, e perspectivas de lugares, de regiões diferentes, só potencializa a produção artística.

Alciene Neves

Sobre o Fasc

Com o tema “Na cultura a gente se encontra”, a 40ª edição do Fasc contará com 11 espaços multiculturais que proporcionarão uma experiência completa e imersiva em diversas linguagens artísticas, como música, teatro, dança, literatura, artes visuais, cinema e outras, em uma grande celebração da riqueza cultural de São Cristóvão, a quarta cidade mais antiga do Brasil.

O Festival de Artes de São Cristóvão é apresentado pelo Ministério da Cultura, com realização da Prefeitura de São Cristóvão, por intermédio da Fundação Municipal do Patrimônio e da Cultura João Bebe Água (Fumpac) e do Encontro Sancristovense de Cultura Popular e Outras Artes (ESCOA);  Governo do Estado de Sergipe, através da Fundação de Cultura e Arte Aperipê (Funcap) e Governo do Brasil.  O Festival conta ainda com patrocínio da CELI, Banco do Nordeste, Iguá Sergipe, Ecoparque Sergipe e CAIXA. O apoio fica por conta da SE – Sistema Engenharia, Colortex Tintas, Unir Locações e Serviços e Vitória Transportes.

O Salão de Literatura Manoel Ferreira, localizado na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Gina Franco continua a programação nesse domingo (23), a partir das 14h.

Confira a programação:

14h - Izabel Nascimento e Bruxas do Cangaço. Tema: “Literatura de Cordel e Hip Hop”/ Mediação: Ísis da Penha

15h - Sala Mangue Jornalismo - Roda de conversa sobre “Jornalismo, literatura e palestina”

15h30 - Lançamento/Sessão de autógrafos dos autores

16h - Roda Fasc de Poesia com Pedro Bomba, Débora Arruda, Bruxas do Cangaço, Izabel Nascimento, Bell Puá, Gustavo Aragão, Luiza Romão, Allan Jonnes e Stella Carvalho

Fotos: Clara Dias 

Publicado por Clara Dias
Fotos por Clara Dias
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