27/06/2025

Grupo de cessação ao tabagismo de São Cristóvão promove prevenção ao câncer de boca

Em São Cristóvão, os grupos de cessação ao tabagismo têm ajudado dezenas de usuários da rede municipal de saúde a abandonarem o vício em nicotina e tabaco de forma permanente. Através do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, do Ministério da Saúde, os participantes recebem acompanhamento medicamentoso, social e emocional para enfrentar a dependência. Na última semana, o grupo da Unidade Básica de Saúde (UBS) Raimundo Aragão, um dos mais ativos do município, promoveu uma ação de conscientização e prevenção ao câncer de boca, destacando a importância dos cuidados com a saúde bucal e odontológica no combate à doença.

A ação contou com uma palestra da cirurgiã-dentista Luiza Fontes, que mostrou como identificar sinais de alerta e que cuidados devem ser tomados diariamente para evitar lesões. Também foram realizados atendimentos odontológicos para avaliação contra o câncer. Além disso, o diálogo foi mediado com a presença de duas intérpretes de Libras - Língua Brasileira de Sinais, enviadas por meio da colaboração da Secretaria do Estado de Saúde (SES), uma vez que o grupo inclui participantes surdos.

Segundo a palestrante e dentista da unidade,foi percebido que a região têm muitos moradores que trabalham com pesca e catação de mariscos em exposição solar, um dos principais fatores de risco para o câncer de boca, junto ao tabagismo, e por isso a equipe decidiu reforçar os cuidados com seus pacientes. “Além de prestar atendimentos, nossa proposta é fazer um alerta importante sobre os cuidados com a saúde bucal. Essa é uma forma de cuidar da saúde da população, prevenindo complicações futuras e garantindo acesso ao tratamento adequado desde os primeiros sinais”, reforçou Luiza Fontes.

Luiza Fontes, cirurgiã-dentista

Durante os atendimentos feitos na unidade, nos casos de lesão que não tenha características de câncer ou pré-câncer, mas ainda assim exija cuidados, o paciente recebe orientações e passa a ser acompanhado pela própria unidade de saúde. Já nos casos em que há suspeita de lesão cancerígena ou pré-cancerígena, o paciente é imediatamente encaminhado ao Centro de Especialidades mais próximo, onde é realizada uma biópsia. Caso o diagnóstico de câncer seja confirmado, o tratamento é continuado no Centro de Oncologia do Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE), garantindo o cuidado adequado e especializado.

Thassia Leal, referência técnica da coordenação de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), evidenciou que os tratamentos por meio dos grupos de cessação ao tabagismo mostraram um impacto direto na qualidade de vida dos pacientes, o que inclui a prevenção de diversas doenças. “São mais de 50 doenças crônicas que podem ser evitadas quando a pessoa para de fumar. E esse número inclui apenas as doenças já comprovadas. Após 10 anos sem fumar, o organismo praticamente elimina a nicotina do sangue, e o risco de desenvolver essas doenças diminui consideravelmente”, explicou.

Thassia Leal, referência técnica da coordenação de Doenças Crônicas Não Transmissíveis

Grupos de Cessação ao Tabagismo

Os grupos de cessação ao tabagismo em São Cristóvão seguem uma estrutura contínua e planejada para garantir apoio integral aos participantes. Iniciados em 2023, hoje já foram instituídos em diversas unidades de saúde, sendo elas as UBSs Jairo Teixeira de Jesus, José Raimundo Aragão, Irônia Maria Aragão Prado Meireles, Manoel Juvino Santos, Bruno Kaique de Souza Santos, Masoud Jalali e  Maria de Lourdes Ramos. Além dos postos, o programa também é aplicado na Unidade de Atenção Primária Prisional do Complexo Penitenciário Dr. Manoel Carvalho Neto (Copemcan). Para participar, é só buscar a UBS de referência e o usuário será encaminhado para o grupo mais próximo.

Nas quatro primeiras semanas, os encontros são semanais, focados na terapia cognitivo-comportamental e no fortalecimento do compromisso com a mudança. No segundo mês, as reuniões se tornam quinzenais, acompanhando os primeiros dias sem fumar, os sintomas de abstinência e possíveis dificuldades. A partir do terceiro mês, o acompanhamento passa a ser mensal, podendo se estender por até um ano, com alta sendo avaliada ao final do processo.

Durante os encontros, os participantes compartilham experiências, recebem orientações de profissionais de saúde e têm acesso a terapias integrativas como ventosaterapia, auriculoterapia e massagens. Também são incentivados a praticar atividades físicas gratuitas, oferecidas pelo IAF nas UBSs, além de participarem de ações educativas sobre saúde e alimentação.

Outro pilar essencial é o suporte medicamentoso fornecido pelo SUS, que inclui adesivos de nicotina, goma de mascar e cloridrato de bupropiona. Esses medicamentos são oferecidos apenas aos participantes dos grupos, pois sua eficácia está diretamente ligada ao acompanhamento completo proposto pelo programa. Com o encerramento de um grupo após o ciclo de um ano, as unidades abrem novas vagas e dão início a novas turmas, garantindo a continuidade do serviço.

Entrega de medicamentos

Paulo Cézar Freire, farmacêutico da UBS Jairo Teixeira e coordenador do grupo, explicou que a condução do tratamento de cada paciente depende do seu processo de adaptação: “Durante os encontros, os profissionais conversam com os participantes para acompanhar como está o uso da nicotina, identificar possíveis recaídas e ajustar o tratamento conforme a necessidade. Alguns ainda têm recaídas, mas isso é comum. O importante é manter o diálogo. A gente avalia se será necessário utilizar mais medicamentos ou não, sempre a partir da escuta do paciente. O nosso objetivo é conduzir esse processo até que ele consiga eliminar completamente o uso da nicotina”.

Paulo Cézar Freire, farmacêutico da UBS Jairo Teixeira e coordenador do grupo

Para Ana Cristina Souza, que fumava desde a adolescência há quase 40 anos, participar dos encontros e usar os medicamentos foi essencial para cessar o vício e há um mês conseguiu parar completamente de fumar, além de ser um espaço de acolhimento onde fez amizade com todos os colegas.  

“Eu fumava de duas a três carteiras por dia. Era constante, devagarzinho, mas sem parar. Com o tempo, vieram os problemas: chiado no peito, falta de ar, até para dormir. Já fiz angioplastia, sou hipertensa e diabética. Estava vendo minha saúde se esgotar. Agora tudo mudou. Faço atividade física, não fico mais ofegante. Antes, se eu subisse uma ladeira, era aquele cansaço. Hoje, eu até dou umas carreirinhas e fico de boa! Estou vendo o resultado real. Ainda tenho crises por conta da abstinência da nicotina, mas eu resisto. Sempre repito pra mim mesma: Eu quero, eu posso, eu consigo”, concluiu, animada.

Ana Cristina Souza, integrante do grupo

Fotos: Dani Santos

Publicado por Clara Dias
Fotos por Dani Santos
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