04/06/2025

São Cristóvão realiza a 1ª Conferência Extraordinária Municipal de Saúde com foco na construção da equidade no SUS

Nesta quarta-feira (04), a Secretaria Municipal de Saúde de São Cristóvão (SMS) realizou a 1ª Conferência Extraordinária Municipal de Saúde, reunindo sociedade civil, profissionais da saúde e gestores públicos para debater propostas de fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) no município. Com o tema “Por um SUS forte: Gestão qualificada, cuidado integral e participação social na construção da equidade em saúde na Cidade Mãe”, o evento teve como objetivo elaborar e aprovar diretrizes que integrarão o Plano Municipal de Saúde para os próximos quatro anos.

Convocada com o propósito de reforçar a participação social nos processos de planejamento da saúde, a conferência dividiu os participantes em três segmentos: usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), trabalhadores da saúde, além de gestores e prestadores de serviço. Essa organização garantiu representatividade e pluralidade nas discussões, promovendo um espaço democrático para a construção de políticas públicas voltadas à realidade local.

Segundo a presidente do Conselho Municipal de Saúde, Gilvânia de Souza, essa estrutura de participação está prevista na Lei nº 8.142, de 1990, que regulamenta a criação do SUS e determina a participação da sociedade na formulação de políticas públicas de saúde. “Nosso município sempre esteve à frente nesse aspecto, porque, enquanto muitos outros não ouviam a população, São Cristóvão sempre priorizou a escuta ativa da comunidade”, destacou a conselheira.

Gilvânia de Souza, presidente do Conselho Municipal de Saúde

O tema voltado à participação social e equidade em saúde foi distribuído em três principais eixos, nos quais os participantes se dividiram para discutir as demandas em grupos de trabalho. O Eixo I tratou da Gestão e Financiamento do SUS, com foco em inovação, transparência e compromisso com a equidade. O Eixo II abordou a Valorização do Trabalhador da Saúde, destacando a importância de condições dignas, formação e cuidado com quem cuida. Já o Eixo III enfatizou a Participação Social e o Protagonismo do Usuário, reforçando que o SUS é construído com a participação ativa da população.

De acordo com secretária-adjunta municipal de Saúde, Michele Soraya, o tema abordado convida a sociedade à reflexão e à construção coletiva para formular propostas com compromisso renovado, em defesa de um Sistema Único de Saúde (SUS)  público, gratuito e verdadeiramente justo.

“O cuidado com a saúde, seja física, social ou emocional, exige equipes qualificadas, redes articuladas e serviços contínuos, que vão desde a atenção básica até os atendimentos de alta complexidade, mas nada disso se sustenta sem a participação popular. O controle social é o que diferencia o SUS de outros sistemas e é fundamental valorizar os nossos conselhos, as conferências e também as ouvidorias, que são espaços legítimos e devem ser respeitados, ouvidos e fortalecidos”, afirmou.

Michele Soraya, secretária-adjunta municipal de Saúde

O evento

A conferência foi iniciada por uma mesa de abertura, que contou com a presença do prefeito de São Cristóvão, Júlio Nascimento; a vice-prefeita, Gedalva Umbaubá; o vereador Marcão da Pastoral; a chefe de serviço de articulação e participação do Ministério da Saúde, Giziane Pereira dos Santos; a representante da Secretaria do Estado da Saúde (SES), Bianca Evangelista; e o chefe de gabinete da UFS, Marcelo Maciel.

Na ocasião, o prefeito Júlio Nascimento reforçou o comprometimento em garantir os serviços de saúde necessários para que a população sancristovense viva com dignidade, e, para isso, a administração pública precisa debater demandas e ouvir quais as necessidades de quem vive o dia a dia da cidade. 

“Todos os planos que construímos ao longo dos anos levam muito em consideração os momentos de escuta, principalmente as audiências públicas e as conferências como essa. É nesses espaços que a população nos traz suas demandas. O nosso desafio é fazer ainda mais: alcançar cada vez mais pessoas, tornar a gestão, especialmente na área da saúde mais eficiente e mais próxima de quem mais precisa”, afirmou o gestor.

Júlio Nascimento, prefeito de São Cristóvão

Em seguida, houve a leitura do regulamento da conferência, aprovado pelo voto dos  participantes. Logo após, foi realizada a mesa redonda intitulada “Saberes e práticas na construção da equidade em Saúde: o papel da universidade, da gestão e dos trabalhadores do SUS na elaboração do Plano Municipal de Saúde 2026-2029”. 

Participaram da mesa a diretora de Planejamento e Gestão em Saúde, Maria Fernanda Camarço; o coordenador de Educação Permanente e Continuada dos Conselhos de Saúde do Nordeste, Marivaldo Meneses; o professor no Departamento de Fonoaudiologia e coordenador Residência em Saúde da Família da UFS, Marcus Valério Peixoto; o técnico da Superintendência Estadual do Ministério da Saúde de Sergipe, Leonardo Ferreira; e o médico da Estratégia da Saúde da Família do município, Lucas Pereira.

A diretora Maria Fernanda Camarço enfatizou que as diretrizes discutidas ao longo do dia serão construídas com base nas necessidades reais da população e nos eixos estabelecidos no plano de governo. “Buscamos garantir que, nos próximos quatro anos, o município possa executar ações concretas, melhorar os indicadores de saúde, e ampliar o acesso da população aos serviços de forma mais eficiente e igualitária”, assegurou.

Maria Fernanda Camarço, diretora de Planejamento e Gestão em Saúde

Além dela, o professor Marcus Valério Peixoto abordou a importância da integração entre universidade, gestão e trabalhadores, questionando as iniquidades em saúde, que envolvem não apenas questões de renda, mas também racismo, desigualdade de gênero, transfobia, entre outras formas de exclusão que afetam diretamente a saúde da população.

“É fundamental que o SUS esteja preparado para compreender esses impactos e produzir respostas sociais que atendam às necessidades de grupos específicos. Estamos falando de desigualdades que são injustas, evitáveis e sistemáticas. E como se trata de um problema complexo, precisamos de múltiplos olhares. O envolvimento da universidade, nesse diálogo com a população e com a gestão pública, é essencial para que a gente possa superar esses desafios de forma consistente”, destacou o professor.

Marcus Valério Peixoto, professor no Departamento de Fonoaudiologia e coordenador Residência em Saúde da Família da UFS

Os grupos de trabalho também compuseram um momento de destaque durante a conferência, pois foi através deles que a comunidade pontuou as diretrizes escolhidas para o Plano Municipal de Saúde. Por meio deles, foram discutidos os três eixos temáticos, e a plenária final decidiu quais pontos definidos agregariam o plano quadrienal.

Complementando as discussões e atividades para fortalecer a saúde da comunidade presente, foram ofertados durante todo o período da conferência testes rápidos, práticas integrativas e complementares, com a aplicação de auriculoterapia e vacinação.

Participação social

Com a participação social em evidência, os trabalhadores e usuários foram peças-chave para alcançar o conhecimento das necessidades e vivências da população. Uma delas foi a assistente social Fabiana Souza, que atua no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Valter Correia. Para ela, esses momentos de conferências, seminários e encontros são muito importantes para que o trabalhador possa trazer a sua voz, suas demandas e também as dificuldades do cotidiano de trabalho. 

“É nesses espaços que conseguimos pensar juntos em como melhorar o nosso serviço e o SUS como um todo. Quando nos reunimos, percebemos que, apesar das especificidades, as demandas não são tão diferentes. Por isso, é essencial juntar forças, compartilhar experiências e refletir sobre estratégias de melhoria, tanto no serviço que oferecemos quanto na nossa prática profissional”, afirmou a profissional.

Fabiana Souza, assistente social do CAPS Valter Correia

Enquanto usuária, a marisqueira Ângela Maria dos Santos acredita ser fundamental ter a participação de comunidades civis da cidade, pois cada uma tem especificidades próprias, como ela que trabalha diariamente na maré, onde está suscetível a adversidades. “Eu mesma peguei uma bactéria e até hoje luto com isso. Meu cabelo antes era grande, e agora está curtinho, por causa dessa bactéria. A gente vive na maré, trabalha de dia, de noite, e precisa de uma saúde pública suficiente para dar suporte ao que a gente enfrenta”, relatou.

Pensando nisso, a marisqueira participou pela primeira vez de uma conferência de saúde, visando acessar mais aprendizado e também ter suas necessidades ouvidas. “É muito interessante ter esse espaço. Tenho a esperança que hoje seja muito bom, que traga aprendizado tanto para nós, marisqueiras e pescadores, quanto para as equipes de saúde sobre as nossas vivências”, concluiu.

Ângela Maria dos Santos, marisqueira

Fotos: Heitor Xavier

Publicado por Clara Dias
Fotos por Heitor Xavier
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