18/06/2025

CAPS Valter Correia celebra 19 anos de acolhimento e luta antimanicomial em clima de união e festejos juninos

“Lugar de acolhida e esperança”, estampava o cordel compartilhado entre os convidados. Com o salão lotado, mesa farta e decoração impecável, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Valter Correia comemorou seu 19º aniversário nesta terça-feira (17), reunindo usuários, profissionais da saúde e gestores em um arraiá animado e recheado de homenagens que ressaltaram a trajetória de cuidado e militância do espaço, essencial na luta antimanicomial e na garantia de dignidade para pacientes psiquiátricos no município de São Cristóvão.

O evento contou com apresentações de dança, música, leitura de depoimentos, casamento dos tabaréus, balaio junino e comidas típicas, além de um espaço de projeção de imagens e exposição de fotografias da história do centro. A gerente do CAPS Valter Correia, Edjane Mendes, destacou que essas memórias são resultado de uma proposta de saúde mental coletiva que merece ser celebrada, que retoma o cuidado e tratamento humanizado, inclusivo, que oferece autonomia ao usuário.

Foto - Clara Dias

“Comemorar essa data é rememorar dores e amores. Mas vencemos. E agora, em 2025, celebramos 19 anos de existência, aproveitando o clima festivo do São João para comemorar, porque o CAPS trata em liberdade. O CAPS promove cidadania. Hoje, temos uma equipe terapêutica multidisciplinar, temos oficinas que devolvem dignidade por meio do cuidado, temos uma estrutura física. Mas ainda há muito a conquistar, porque a saúde, ela se faz todo dia”, enfatizou a gerente.

Edjane Mendes, gerente do CAPS Valter Correia/ Foto - Clara Dias

O prefeito Júlio Nascimento garantiu que a sua equipe continuará trabalhando para melhorar cada vez mais a oferta dos serviços de saúde para os usuários do CAPS. “Sabemos que vocês merecem o melhor e é por isso que nós trabalhamos, para entregar os melhores serviços e cuidado a nossa população”, declarou àqueles presentes na festa.

Júlio Nascimento, prefeito de São Cristóvão/ Foto - Dani Santos

Espaço de acolhimento e socialização 

O CAPS Valter Correia é um equipamento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de São Cristóvão, criado em 2006, idealizado por Florêncio Antônio e implantado na gestão do então prefeito Zezinho da Everest. Surgiu com o compromisso de acolher, combater o estigma e promover a saúde mental com dignidade. Em 2017, foi requalificado e reaberto em um espaço amplo no bairro Divineia pelo ex-prefeito e atual secretário de Governo e Gestão, Marcos Santana, após um período de suspensão e sucateamento da instituição.

Foto - Dani Santos

Ao longo dos anos, o CAPS atendeu cerca de 1.700 pessoas, oferecendo atualmente atendimento psicossocial humanizado com uma equipe multidisciplinar, que promove acompanhamentos diversos, altas, encaminhamentos e vínculos duradouros. Sua proposta terapêutica envolve assembleias, escuta ativa e grupos terapêuticos como “Mulheres Guerreiras”, “Artes com as Mãos”, “SPA” (Substâncias PsicoAtivas), “Letrarte” e projetos de de arte, geração de renda e expressão corporal.

Equipe multiprofissional do CAPS/ Foto - Dani Santos

Segundo a coordenadora de Atenção Psicossocial do município, Edna Santos, todos esses grupos e atividades são feitos por profissionais qualificados e dedicados, em um serviço de porta aberta, em que os usuários não precisam de encaminhamento para serem atendidos. “O paciente chega, passa por uma escuta com um técnico especializado, e a partir daí é feito todo o processo de acolhimento. Se não for um caso para ser acompanhado pelo CAPS, o paciente é orientado e direcionado adequadamente”, explicou Edna. 

Edna Santos, coordenadora de Atenção Psicossocial/ Foto - Clara Dias

Uma vez admitido no CAPS, o usuário participa dos grupos terapêuticos e também de acolhimentos individuais, conforme sua necessidade, com acompanhamento da equipe multidisciplinar. “Ter esse dispositivo de saúde mental no município de São Cristóvão é fundamental. Compreendemos o quanto essa luta vem da história do movimento antimanicomial, de um tempo em que os usuários não tinham voz, eram afastados de suas famílias, trancados, e até submetidos a práticas como o eletrochoque. Hoje, eles têm voz, têm vez, e têm cuidado perto de casa, na comunidade. Garantir esse espaço é maravilhoso. E poder fazer parte dessa história é ainda mais gratificante”, reafirmou a coordenadora. 

Foto - Dani Santos

Há sete anos trabalhando com a comunidade do CAPS Valter Correia, o médico Erick Cunha, que liderou o coral no momento da festa, realçou o espaço como um instrumento fundamental para trabalhar a saúde mental para além da medicação. “A medicação, em alguns momentos, pode ser necessária e vai auxiliar no processo. Mas saúde mental é muito mais do que isso: é estar bem consigo mesmo, dormir bem, ter rotina, ter momentos de lazer, paz, tranquilidade. É fazer atividades que proporcionem bem-estar. Aqui no CAPS, temos uma equipe multidisciplinar que oferece diversas terapias, como arte-terapia e um grupo de música, do qual faço parte, que tem um impacto muito positivo na vida dos usuários”, detalhou.

Erick Cunha, médico do CAPS Valter Correia/ Foto - Dani Santos

Integrados aos atendimentos, os usuários ainda participam das atividades, recebem orientações sobre alimentação, higiene do sono, prática de exercícios, e são acompanhados com todo cuidado, quebrando o estigma que o cuidar da saúde mental é inerente ao tratamento medicamentoso.

Usuários satisfeitos 

Como representante dos usuários do CAPS, João Santana destacou a alegria de comemorar os 19 anos de um lugar tão importante. “Esse local é, acima de tudo, um lugar de acolhimento, cuidado e transformação de vidas. Comemorar essa trajetória é emocionante, porque sabemos o quanto ele representa para cada pessoa que passa por aqui”, celebrou. 

João Santana, representante dos usuários do CAPS/ Foto - Dani Santos

Ana Maria dos Santos, mãe do paciente Edvaldo, só tem a agradecer pelos 19 anos de atendimento do seu filho: “Isso melhorou muito a vida do meu filho, mas também a minha. Graças a Deus, eu sou feliz aqui. E esse médico que a gente tem é maravilhoso. Porque, nos hospitais por aí, os médicos mal olham na cara da gente. Entram, lêem o papel e pronto. Esse daqui, não. Ele pega na mão da gente, canta, conversa, se envolve com todo mundo. É um médico de verdade, humano, que faz a diferença. Tudo aqui é com cuidado, é com amor”. 

Ana Maria dos Santos, mãe do paciente Edvaldo/ Foto - Clara Dias

Já o usuário Cleilton dos Santos, atendido no espaço há 13 anos, compartilhou um relato emocionante de sua autoria, mostrando o impacto positivo do trabalho multisetorial do centro em sua vida. “Foi aqui, nesse espaço de acolhimento e escuta, que encontrei algo que nunca imaginei: pessoas que me enxergaram além do meu sofrimento. Profissionais que não tratavam só os sintomas, mas me tratavam como alguém que merecia ser cuidado, ouvido e respeitado. Hoje, olho para trás e sinto orgulho da minha trajetória. O CAPS fez parte de cada passo importante que dei. E sei que ainda temos muito caminho pela frente, mas agora, sei que não estou sozinho”, afirmou Cleilton, que hoje vê sua persistência no tratamento como sinal de coragem.

Cleilton dos Santos, usuário do CAPS Valter Correia/ Foto - Clara Dias

Fotos: Dani Santos

Publicado por Clara Dias
Fotos por Dani Santos
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