08/10/2025

Caps João Bebe Água completa 20 anos de resistência e acolhimento a pacientes de saúde mental em São Cristóvão

Na última terça-feira (07), o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) João Bebe Água, primeiro implantado em São Cristóvão, comemorou 20 anos de funcionamento com música, atividades estimulantes e muita alegria. Reunindo usuários antigos e novos, profissionais e gestores da saúde, a celebração contou com a apresentação do Coral do Caps, sorteios de brindes, lanches, exposições artísticas e espaços de geração de renda para os pacientes da unidade.

O serviço do Caps João Bebe Água é aberto, gratuito e atende atualmente cerca de 700 usuários ativos, de segunda a sexta-feira, das 7h às 17h. Qualquer pessoa que esteja em sofrimento psíquico, com transtornos mentais ou dificuldades relacionadas ao uso de álcool e outras drogas, pode buscar atendimento no Caps, sem necessidade de encaminhamento médico. 

Segundo Edna Santos, coordenadora de Atenção Psicossocial do município, as ações promovidas pelo centro incluem atendimentos individuais, atividades em grupo e acompanhamento contínuo, sempre respeitando as particularidades de cada paciente. O município também oferece atendimento psicológico e psiquiátrico, garantindo um acolhimento humanizado e adequado às necessidades de cada faixa etária e realidade.

“Esse indivíduo passa por um acolhimento inicial e, a partir dele, é traçado um Projeto Terapêutico Singular (PTS), elaborado junto ao paciente para identificar em quais oficinas ele tem interesse em participar e se a demanda apresentada será trabalhada em grupo ou de forma individual. Também contamos com atendimentos de toda a equipe multiprofissional, composta por enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, cuidadores em saúde, entre outros”, explicou a coordenadora.

Edna Santos, coordenadora de Atenção Psicossocial

O Caps João Bebe Água representa um marco fundamental na consolidação da luta antimanicomial e na promoção da dignidade das pessoas com transtornos mentais em São Cristóvão. Criado a partir dos princípios da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001), o serviço rompe com a lógica de exclusão dos antigos manicômios e oferece um cuidado humanizado, baseado na convivência, escuta e reinserção social. 

Para a diretora de Vigilância e Atenção à Saúde, Vanessa Meneses, celebrar os 20 anos do Caps João Bebe Água é comemorar o resultado do fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), que representa muito mais do que a oferta de serviços, mas a proteção da dignidade humana. “Esse momento de festejo é a representação de tudo isso que os Caps significam para o país, espaços de socialização e de convivência, em que os usuários são protagonistas da própria história”, afirmou. 

Vanessa Meneses, diretora de Vigilância e Atenção à Saúde, e Andreia Mota, gerente do Caps João Bebe Água.

Andreia Mota, gerente do Caps João Bebe Água, também ressaltou que a comemoração do aniversário do Caps é uma forma de trazer visibilidade para o equipamento público, além de ser um momento de confraternização para os usuários, que eles preparam e participam ativamente, desde a decoração até o momento da festa. 

Sorteio de brindes

“Os painéis expostos foram construídos nas oficinas dos grupos terapêuticos, assim como estande da geração de renda, com materiais e objetos confeccionados pelos pacientes, mostrando a importância da socialização e as habilidades que eles têm. Assim também mostramos para outros usuários que ainda não conhecem o trabalho, já que vêm em outros dias e participam de outras oficinas. Então, é um momento de juntar todo mundo que pode estar aqui para ver um trabalho que é fruto do esforço deles”, evidenciou a gerente.

Equipe multiprofissional do Caps João Bebe Água

Espaço de transformação social

O Caps João Bebe Água desempenha um papel essencial na transformação social dos seus usuários, ao promover a reinserção de pessoas com transtornos mentais na vida em comunidade. De acordo com o psicólogo da unidade, Alziro Neto, ao longo dos 20 anos de funcionamento, o espaço ampliou sua atuação para qualquer tipo de sofrimento psíquico, o que não ocorria antes, acolhendo desde crianças a idosos. “Eu percebo esse equipamento como uma ferramenta muito importante no território. É um espaço onde, de fato, as pessoas encontram acolhimento da equipe de psicologia e dos outros profissionais aqui da área também”.

Alziro Neto, psicólogo do Caps João Bebe Água

Shalom, o primeiro paciente ativo do Caps João Bebe Água e que continua a frequentar o espaço, relembrou que antes da inauguração ele precisava se deslocar a Aracaju para receber tratamento, onde também já passou por uma internação. Nos últimos 20 anos, no entanto, ele tem tratamento psicológico e medicamentoso gratuito perto de sua casa, o que contribuiu para sua saúde mental e inserção na sociedade. 

“Muitas pessoas não têm condições de fazer um tratamento psiquiátrico particular, porque é caro e inacessível para a maioria. Por isso, a importância dessa unidade de saúde mental é enorme, só entende realmente quem depende dela diariamente, assim como os familiares que convivem com alguém que enfrenta uma psicose aguda e precisa de apoio, de um lugar que ofereça acolhimento e tratamento para se recuperar e se reintegrar à sociedade e ao mercado de trabalho. A função do Caps é justamente essa: a pessoa vem, passa pelo tratamento, melhora, se reestrutura e volta à vida social e profissional”, declarou.

Shalom, o primeiro paciente ativo do Caps João Bebe Água/ Foto - Clara Dias

Outro exemplo de acolhimento é o paciente José dos Passos Santos, que  há 18 anos vive uma mudança profunda em sua vida por conta dos amigos e das atividades que faz no Caps. “Eu costumo dizer que o Caps é a minha casa, minha morada. Aqui eu encontrei cuidado, carinho e atenção. Se não fosse o Caps, eu nem sei o que seria de mim. Hoje em dia eu estou bem, acostumado com a rotina daqui, participando das atividades. O que mais gosto é fazer artesanato e conversar com meus amigos”, detalhou José.

Josete Lima, Rosa Maria de Alcântara e José dos Passos Santos, usuários do Caps João Bebe Água

Uma dessas amigas é a usuária Rosa Maria de Alcântara, que passou 20 dos seus 70 anos indo assiduamente ao Caps João Bebe Água, o que não apenas a fez consolidar sua vontade de viver, mas melhorou sua qualidade de vida. “Aqui, tudo mudou. Fiz amigos, encontrei apoio e carinho. Venho sempre, participo das atividades, converso, me sinto acolhida. Hoje, estou aqui comemorando meus 20 anos de CAPS, e posso dizer que foi aqui que encontrei força pra viver melhor”, comemorou.

Fotos: Heitor Xavier

Publicado por Clara Dias
Fotos por Heitor Xavier
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