Projeto Yá Oumim - Mãe das Águas celebra Tradições Afro-brasileiras e o Dia Mundial da Água em São Cristóvão

Na manhã desta sexta-feira (21), a Prefeitura de São Cristóvão, através da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) em parceria com as Secretarias Municipais de Meio Ambiente (Semma) e Serviços Urbanos (Semsurb), realizou mais uma edição do projeto “Yá Oumim - Mãe das Águas”. Fortalecendo a conexão entre fé, cultura e sustentabilidade, a iniciativa celebrou o Dia Nacional das Tradições de Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé e integrou as ações voltadas para o Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março.
Dividida em dois momentos, a programação foi iniciada com uma limpeza simbólica do Rio Pitanga, situado na Rodovia João Bebe Água, que é considerado local sagrado para terreiros de Candomblé e Umbanda. Durante a atividade, representantes das secretarias envolvidas e integrantes de terreiros da região se uniram para retirar dejetos não biodegradáveis da mata ao redor do rio, enquanto eram dadas orientações sobre práticas sustentáveis para a realização de oferendas, reforçando o respeito à natureza.
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Para finalizar essa etapa da ação, os participantes coletaram água em pequenos vasos para a rega simbólica das árvores do Parque Natural Aloízio Fontes dos Santos, conhecido como Bica dos Pintos. O segundo momento da ação foi contemplado pelo tradicional Xirê, uma saudação ancestral aos Orixás e às forças naturais. O ato representou um gesto de gratidão pelos recursos hídricos, fundamentais para as religiões de matriz africana, ao mesmo tempo em que buscou conscientizar a população sobre a importância da preservação ambiental.

Segundo a coordenadora de Igualdade Racial da Semas, Sandra Sena, este é o sétimo ano que a ação é promovida, com a participação de representantes de diversas esferas do município, além da sociedade civil, em um esforço coletivo para conscientizar sobre a importância do cuidado com seu território, florestas e recursos naturais.
“As casas de religião de matriz africana são grandes protetoras da natureza, pois utilizam elementos como a água e as florestas em seus rituais. Dentro dessa simbologia, coletamos um pouco da água do Rio Pitanga e a levaremos até a área da Bica dos Pintos, devolvendo-a à natureza e reafirmando o ciclo da vida”, detalhou.
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O secretário-adjunto de Assistência Social, André Dória, reforçou que todas atividades realizadas pela Semas carregam a perspectiva da luta antirracista, reafirmando a importância de valorizar o povo preto e fortalecer essa luta. “É fundamental utilizar momentos como esse para fortalecer a luta antirracista e garantir que a defesa da população preta esteja sempre em pauta. A Prefeitura de São Cristóvão está aberta e comprometida com essa causa”, pontuou o secretário.

Cuidado ambiental
A natureza é um espaço sagrado para as religiões de matriz e essencial para a vida de toda a comunidade. Por isso, um dos principais intuitos do projeto ‘Mãe das Águas’ é sensibilizar não apenas as comunidades tradicionais de terreiro, mas toda a população de São Cristóvão em relação ao cuidado com o meio ambiente.
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Tony Reis, diretor de Direitos Humanos da Semas, ressaltou que, ao longo das sete edições do projeto, foram notados avanços significativos na conscientização ambiental. Um dos principais diferenciais é a redução da quantidade de materiais inadequadamente descartados na natureza.
“Quando estive aqui pela primeira vez, o cenário era muito diferente, com grande acúmulo de resíduos, tanto de oferendas quanto de descarte geral da comunidade. Hoje, ao chegarmos ao local, a limpeza foi realizada com muito mais rapidez, o que mostra um resultado concreto desse trabalho de conscientização. A preservação ambiental é uma responsabilidade coletiva, e projetos como este são fundamentais para promover mudanças positivas na relação das pessoas com a natureza e com suas próprias práticas culturais e religiosas”, evidenciou o diretor, que é candomblecista.

A Secretária de Meio Ambiente, Janine Oliveira, também reforçou que a gestão municipal busca manter uma relação estreita com as comunidades e povos tradicionais, incluindo os povos de matriz africana, que, em especial, possuem um vínculo espiritual e cultural profundo com os elementos da natureza. “Pequenas ações e mudanças de atitude podem fazer grande diferença na conservação da natureza, das águas e das paisagens naturais”, afirmou.
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As oferendas aos orixás realizadas pelas religiões de matrizes africanas podem ser pensadas de forma sustentável, levando em conta o uso de materiais biodegradáveis, como frutas, flores e recipientes naturais, como folhas de bananeira ou cestos de cipó. Além disso, é importante escolher locais onde os elementos possam se integrar ao ambiente, evitando impactos negativos à natureza.
Após o ritual, resíduos não naturais, como velas e recipientes de vidro, podem ser recolhidos, e líquidos podem ser despejados diretamente na terra. Dessa forma, a espiritualidade se alinha ao respeito e cuidado com o meio ambiente.
Diversidade religiosa
A realização do projeto “Yá Oumim - Mãe das Águas” ainda fortalece a promoção da diversidade religiosa e o respeito às manifestações de fé das comunidades de matriz africana. Ao proporcionar um espaço de celebração e reflexão, a iniciativa contribui para a valorização dessas tradições e para o combate à intolerância religiosa em São Cristóvão, que conta com 76 terreiros de candomblé e umbanda no seu território.


Para Maria Aparecida Lopes, que representa a sociedade civil como vice-presidente do Conselho Municipal de Promoção à Igualdade Racial (Compir), é de extrema importância que o município, em parceria com os conselhos, a sociedade civil e a Secretaria de Meio Ambiente, promova ações como essa. Assim, elas proporcionam um novo olhar sobre o meio ambiente e reforçam a necessidade de preservar, observar e adotar uma postura ativa no cuidado com a natureza.
“Essa preservação está diretamente ligada ao que acreditamos ser essencial para a vida: o meio ambiente e a nossa religiosidade. Ao fortalecer essa conexão, reafirmamos o compromisso de respeito e proteção à natureza, que é sagrada para as religiões de matriz africana e fundamental para toda a comunidade”, afirmou.
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Representando a Associação de Povos de Terreiros de Sergipe (Apetese), o presidente Carlos Vinícius Santana explicou que tudo que é feito nas religiões de matriz africana tem a ver com a natureza, e o que é feito nela altera sua energia. Por isso, é preciso manter os espaços sempre positivos, o que inclui desmistificar preconceitos.
“Várias pessoas ainda veem uma oferenda e interpretam como algo negativo, mas há uma história por trás disso. No passado, os escravizados que fugiam dos engenhos se refugiavam na mata e sobreviviam com as oferendas deixadas pelos seus irmãos de fé. Portanto, há um significado profundo de religiosidade e solidariedade nessa prática.

Muitas mães e pais de santo representaram seus terreiros no Xirê. Uma delas foi a Mãe Celia, do Abassá Ilé Axé, no bairro Eduardo Gomes. Ela destacou a relevância de incentivar pessoas de outras religiões entendam que as comunidades de terreiro incentivam cultura, caridade, fé, amor e respeito. “A luta pela verdade e pela liberdade continua para todos aqueles que ainda não conseguem ter dignidade, respeito, uma casa, uma terra, uma moradia. Por isso, desde já, esperamos que respeitem nossa fé, nossa união, nosso amor”.



Presenças
Estiveram presentes no evento o chefe de gabinete da Prefeitura, Eldro França, os vereadores Marcão da Pastoral, Italo Macário e Rodrigo Guery, e as conselheiras da Ordem dos Advogados de Sergipe (OAB) Clara Conceição e Carla Carol.


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