Na última semana, representantes do projeto Mil Dias de Vida - promovido pelo Instituto Opy, Fundação José Luiz Egydio Setúbal, Datapedia e Rede Brasileira de Letramento em Saúde (Rebrals) em parceria com a Prefeitura de São Cristóvão - apresentaram os resultados da aplicação de suas diretrizes no município. A Cidade Mãe, que tem realizado e recebido o projeto desde de 2023, foi pioneira no país em sua participação, sendo escolhida como cidade piloto para o seu desenvolvimento.

O objetivo da iniciativa, que teve a duração de 14 meses, foi diagnosticar a situação da saúde e implementar políticas públicas voltadas aos cuidados dos Primeiros Mil Dias de vida da criança, a partir da atenção à saúde materno-infantil, impactando no desenvolvimento integral da criança na primeiríssima infância através do letramento em saúde. A parceria foi iniciada no campo da saúde e estendida para a assistência social e educação, oferecendo um panorama completo de soluções para o cuidado com as crianças e as mães sancristovenses.

Para o prefeito de São Cristóvão, Marcos Santana, é um motivo de orgulho ter seu município escolhido como cidade pioneira na aplicação da metodologia dos Mil Dias de Vida, que pode ser vitrine para outros municípios do Brasil, além de um ganho inestimável que os resultados do projeto trouxeram para o público materno-infantil do território.

“A parceria com o Instituto Opy veio ajudar nosso município no diagnóstico e na implantação de metodologias e ferramentas que possam melhorar ainda mais a nossa Atenção à Saúde e outras áreas, principalmente nesse público da primeira infância. Acessar a avaliação e os resultados desse trabalho é uma forma de reconhecer os caminhos positivos que nossa cidade tem percorrido para atender à população”, ressalta.

A secretária-adjunta de Saúde de São Cristóvão, Emilly Nardelli representou a Secretaria Municipal de Saúde na reunião e explicou que o trabalho foi iniciado a partir de um diagnóstico minucioso produzido pelo Instituto Opy, em conjunto com as gerências e equipes das Unidades Básicas de Saúde, que apontou fragilidades e potencialidades nesse âmbito. A partir disso, ações foram propostas e executadas para fortalecer os pontos positivos nos serviços de saúde e aprimorar questões que demandavam melhorias.

“A reunião foi muito produtiva, porque também foi possível avaliar as necessidades de outras secretarias, como a Secretaria Municipal de Educação e a Secretaria Municipal de Assistência Social. Como proposta de finalização do projeto, o Instituto Opy sugeriu a publicação de uma portaria com a carta de serviços, detalhando todas as ofertas que o município tem para os usuários específicos do projeto, que são as mães, gestantes e crianças nos primeiros mil dias de vida”, destaca a secretária-adjunta.

Letramento em Saúde

Em paralelo ao diagnóstico feito para compreender o território, o projeto utilizou a metodologia do letramento em saúde, um dos pilares para promoção da saúde, que teve um importante papel na Atenção Primária à Saúde, auxiliando os profissionais e a população a alcançar um nível de conhecimento desejado e desenvolver habilidades para melhoria de sua saúde e de sua comunidade.

A primeira capacitação sobre letramento em saúde foi ofertada em agosto de 2023 para todos os profissionais da rede, além de uma experiência piloto em duas unidades: a UBS Maria Alice Freire, localizada no povoado Pedreiras, e a UBS José Amado, no bairro Marcelo Déda. Nesta etapa, foram passados os conceitos de Letramento em Saúde, que visam melhorar o atendimento, a explicação e as informações fornecidas aos usuários, permitindo que sigam seus tratamentos e entendam melhor os processos de cura e os encaminhamentos para hospitais ou especialidades. 

Marcos Silveira, parceiro-executor do Datapedia, afirma que esse foi um processo muito positivo, que contextualizou e orientou a equipe para compreender as prioridades e obter os resultados almejados, levando-os a atuar na demanda mais urgente, a redução da mortalidade infantil.

“Ajudamos as equipes de saúde e o Comitê de Investigação de Mortalidade Infantil, fornecendo dados, insumos e capacitação técnica, além de priorizar o atendimento de gestantes de risco e pacientes com maior vulnerabilidade social. Foram capacitados 74 Agentes Comunitários de Saúde do município e mais oito pessoas nas duas unidades piloto em letramento em saúde”, explica.

Além disso, o trabalho junto ao Instituto Opy forneceu um mapeamento da jornada básica de ofertas na primeira infância, que resultou em um painel intersetorial com o detalhamento dos serviços oferecidos por São Cristóvão em assistência social, saúde e educação, desde a gestação até os seis anos de idade da criança. 

O diagnóstico prévio também proporcionou a compreensão que algumas demandas da área da saúde poderiam ser sanadas por meio do apoio assistencial e educacional, o que fortaleceu pontos de integração entre as três áreas. A secretária de Assistência Social, Lucianne Rocha, detalha que, a partir desse diagnóstico, a equipe parceira fez um levantamento dos serviços da rede de Assistência Social ofertados para a primeira infância no município.

“Na reunião, foi apresentado o levantamento feito da educação e da assistência social, bem como a avaliação feita da rede da primeira infância. O nosso papel foi fornecer as informações necessárias para a evolução do projeto, buscando soluções em conjunto para as demandas encontradas”, explica a secretária.

Esse trabalho resultou na criação de uma série de capacitações realizadas em conjunto pelas Secretarias de Assistência Social e Saúde, que levou o conhecimento aos profissionais da saúde em relação aos principais programas, benefícios e auxílios oferecidos pelo município, como o Bolsa Família e a política de segurança alimentar "Tá na Mesa".

Resultados expressivos

O resultado mais importante e efetivo apresentado nesses 14 meses de trabalho em conjunto foi a redução da mortalidade infantil, ou seja, de crianças antes de completar o primeiro ano de vida, que era o principal foco do experimento. Nos primeiros seis meses deste ano, foi apresentada uma redução de 72% dos óbitos infantis, em comparação ao mesmo período do ano anterior, fruto do trabalho da Secretaria Municipal de Saúde com as parcerias que tem firmado.

Junto à expressiva redução dos óbitos, o projeto ainda trouxe bons resultados, principalmente no apoio ao Comitê Municipal de Prevenção de Óbitos Materno, Infantil e Fetal (COMPROMIF), que passou a ser operacionalizado para investigar óbitos infantis e trabalhar nas causas evitáveis, ajustando o sistema de saúde conforme necessário.

Maria Helena Andrade, coordenadora de Saúde da Mulher de São Cristóvão e presidente do COMPROMIF, enfatiza a importância desses resultados para a garantia da saúde das mães e crianças da cidade, o que, a longo prazo, impacta na melhoria da saúde de toda a população.

“A Secretária de Saúde vem somando esforços para a redução dos óbitos maternos, infantis e fetais. O Instituto Opy foi um importante parceiro para a discussão da temática e auxiliador no processo de análise das situações do território para esta redução. Além disso, o instituto participou das reuniões do COMPROMIF, contribuindo com o seu fortalecimento”, pontua a coordenadora.

Fotos: Arquivo