Hip Hop em Cena: São Cristóvão fortalece a cultura hip-hop no município com terceira edição do evento

A 3ª edição do Hip Hop em Cena, realizada nesta quinta-feira (14), reuniu artistas e divulgadores da cultura do hip-hop na praça Horácio Souza Lima, no bairro Rosa Elze, para apresentar atrações de música, batalhas de rima, grafite e dança à comunidade de São Cristóvão. O enaltecimento da cultura do hip-hop na Cidade Mãe tem sido um movimento da prefeitura, fortalecido por meio de políticas públicas, desde a instituição da Lei Municipal Nº 276 de 08 de dezembro de 2016, que declarou 12 de novembro como o Dia Municipal do Hip Hop.
Já conhecida como o Dia Mundial do Hip Hop, a data é celebrada como uma ferramenta de integração social, por meio da realização de eventos que destacam os artistas de hip-hop locais, trazendo reconhecimento ao gênero que, no Brasil, representa uma importante forma de expressão, em especial para comunidades pretas e periféricas.

De acordo com a diretora de Arte e Cultura da Fundação Municipal de Cultura e Turismo (Fumctur), Elma Santos, a administração da cidade tem se dedicado a um diálogo mais próximo e colaborativo com os grupos que integram a cultura hip-hop. A organização do evento é feita de maneira participativa, envolvendo ativamente os grupos locais, que colaboram na construção da programação e na definição das atividades.
“Essa ação coletiva fortalece os laços entre os membros da comunidade e assegura que o evento reflita a diversidade e a autenticidade do movimento hip-hop local. O Hip Hop em Cena é mais do que uma comemoração; é um momento de valorização e de reconhecimento da importância da cultura hip-hop para São Cristóvão, celebrando suas expressões artísticas e promovendo a participação ativa da comunidade”, destacou a diretora.

O evento
Os quatro pilares da cultura do hip-hop - DJ, MC, grafite e breaking - foram representados na celebração do movimento. A noite foi iniciada com a manifestação de grafite ao vivo feita por Loan e Edji, que pintaram um mural ao lado da praça, com símbolos que remetem à cultura de São Cristóvão.

Para o artista visual Edji, a realização de eventos que fomentam o hip-hop, incluindo o grafite, é fundamental para a promoção e valorização dessa forma de expressão. O hip-hop, segundo ele, é uma manifestação cultural rica e diversa, que vai além da música e da dança, abrangendo também a poesia, a pintura e outras formas artísticas, representando um estilo de vida e uma voz para muitos jovens.
“A importância de eventos como o Hip Hop em Cena está no reconhecimento da juventude e na promoção de uma cultura de liberdade e expressão. Quando a prefeitura apoia e financia esse tipo de evento, ela cumpre seu papel de servir a população e investir em iniciativas que refletem as identidades e necessidades dos cidadãos. Esse apoio deve ser constante e ampliado, para permitir que essas celebrações ocorram com mais frequência ao longo do ano, fortalecendo o movimento hip hop e o espaço de criação e resistência que ele representa”, defendeu o artista.
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Enquanto o mural era elaborado, o DJ Olig também começava seu set musical, que marcou o ritmo de quase toda a festa, incluindo a apresentação do grupo Embrazados Crew, que subiu ao palco em seguida para mostrar seus passos de dança Break. Augusto Silva, membro do grupo de dança, contou que a equipe foi formada em 2020 e hoje conta com 10 integrantes.

“Para nós, estar aqui significa expandir nossa arte para o público. O Break é uma dança que agora faz parte das Olimpíadas e agora está ganhando mais espaço no mundo, então viemos aqui para mostrar que nosso grupo também está construindo essa arte com o povo de São Cristóvão”, afirmou o dançarino.

“1, 2, 3, RIMA!” Quando foi dada a largada para a batalha de rima Hip-Hop em Cena, todos os olhos e ouvidos se voltaram para os embates poéticos e politizados, que não só entreteram e engajaram o público, mas fizeram os espectadores refletirem sobre as discussões sociais abordadas nas falas dos artistas. A batalha, que contou com a presença de oito MCs, tinha seus ganhadores baseados nos votos dos jurados e da plateia, e o grande ganhador da noite, que passou invicto por todas as etapas, foi o MC Sheng, bicampeão no evento.
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“Eu acredito que nossa cultura precisa ser fomentada diante de eventos assim, porque em geral nós nos organizamos de forma independente, é muito corre, e termos esse apoio da prefeitura, pelo menos anualmente, é mais que necessário, é muito massa”, afirmou o rapper.

Após as batalhas de rimas, começaram os shows musicais. O público se encantou com a apresentação de Pérola Negra, que contou com participação especial de Ratturas, assim como se engajou na performance das Bruxas do Cangaço, presença tradicional do hip-hop sergipano. O encerramento do evento foi por conta do grupo Nine Senses, que, com mais uma demonstração de talento, embalou os fãs com o ritmo de seus sucessos.
Para Pérola Negra, o movimento do hip-hop é importante para que os seus participantes tenham novas perspectivas de vida: “Quando falamos que o hip-hop salva, não é só porque é uma arte e cultura que tira as pessoas da rua, mas que também tira a fome das pessoas. Estarmos aqui hoje na praça do Rosa Elze, que é um espaço cheio de diversidade e cultura, fazendo esse projeto há anos, é de grande importância para que possamos nos enxergar em outros locais, para vermos que a arte e cultura desta terra está sendo valorizada. Que os MCs e artistas são essenciais para a cultura local, porque sem a gente não existe São Cristóvão”, enfatizou a artista.
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A participação do público foi uma atração à parte, primordial para o sucesso do evento. Sendo membro da comunidade do Rosa Elze, Zay, que estava atentamente assistindo as apresentações, ressaltou que é ainda mais relevante fomentar esse tipo de evento no mês da Consciência Negra. “O hip-hop é parte da nossa cultura negra, então acho muito importante ter esse tipo de mobilização para reunir nossa comunidade. Para mim está sendo incrível”, destacou.
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O movimento hip-hop

O hip-hop nasceu no bairro do Bronx, em Nova York, um local majoritariamente formado por comunidades negras, caribenhas e latinas. O marco inicial dessa cultura ocorreu em agosto de 1973, durante uma festa organizada por Clive Campbell, conhecido como Kool Herc, e sua irmã Cindy Campbell. Na ocasião, Kool Herc inovou a arte da discotecagem, tornando-se uma referência como DJ e dando início a um movimento que cresceria rapidamente.
Esse evento foi um ponto de virada e, em 12 de novembro de 1973, a fundação da Nação Zulu consolidou a estrutura do hip-hop, promovendo seus quatro elementos fundamentais: breaking, DJ, MC e grafite. A Nação Zulu teve um papel importante em sistematizar a cultura hip-hop, utilizando-a como uma ferramenta para estimular a criatividade e oferecer alternativas à violência.
O movimento, desde então, passou a ser uma plataforma para a reflexão crítica sobre questões sociais, como o funcionamento das instituições, a luta por igualdade racial e a disputa de classes. Essas reflexões, em grande parte, são conduzidas por membros de comunidades periféricas, que reverberam a cultura mundialmente, inclusive em São Cristóvão, mostrando a força do hip-hop como um meio de expressão e resistência.
Fotos: Heitor Xavier
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