15/11/2024

Hip Hop em Cena: São Cristóvão fortalece a cultura hip-hop no município com terceira edição do evento

A 3ª edição do Hip Hop em Cena, realizada nesta quinta-feira (14), reuniu artistas e divulgadores da cultura do hip-hop na praça Horácio Souza Lima, no bairro Rosa Elze, para apresentar atrações de música, batalhas de rima, grafite e dança à comunidade de São Cristóvão. O enaltecimento da cultura do hip-hop na Cidade Mãe tem sido um movimento da prefeitura, fortalecido por meio de políticas públicas, desde a instituição da Lei Municipal Nº 276 de 08 de dezembro de 2016, que declarou 12 de novembro como o Dia Municipal do Hip Hop. 

Já conhecida como o Dia Mundial do Hip Hop, a data é celebrada como uma ferramenta de integração social, por meio da realização de eventos que destacam os artistas de hip-hop locais, trazendo reconhecimento ao gênero que, no Brasil, representa uma importante forma de expressão, em especial para comunidades pretas e periféricas.

De acordo com a diretora de Arte e Cultura da Fundação Municipal de Cultura e Turismo (Fumctur), Elma Santos, a administração da cidade tem se dedicado a um diálogo mais próximo e colaborativo com os grupos que integram a cultura hip-hop. A organização do evento é feita de maneira participativa, envolvendo ativamente os grupos locais, que colaboram na construção da programação e na definição das atividades. 

“Essa ação coletiva fortalece os laços entre os membros da comunidade e assegura que o evento reflita a diversidade e a autenticidade do movimento hip-hop local. O Hip Hop em Cena é mais do que uma comemoração; é um momento de valorização e de reconhecimento da importância da cultura hip-hop para São Cristóvão, celebrando suas expressões artísticas e promovendo a participação ativa da comunidade”, destacou a diretora.

Elma Santos, diretora de Arte e Cultura da Fumctur

O evento

Os quatro pilares da cultura do hip-hop - DJ, MC, grafite e breaking - foram representados na celebração do movimento. A noite foi iniciada com a manifestação de grafite ao vivo feita por Loan e Edji, que pintaram um mural ao lado da praça, com símbolos que remetem à cultura de São Cristóvão. 

DJ Olig

Para o artista visual Edji, a realização de eventos que fomentam o hip-hop, incluindo o grafite, é fundamental para a promoção e valorização dessa forma de expressão. O hip-hop, segundo ele, é uma manifestação cultural rica e diversa, que vai além da música e da dança, abrangendo também a poesia, a pintura e outras formas artísticas, representando um estilo de vida e uma voz para muitos jovens.

“A importância de eventos como o Hip Hop em Cena está no reconhecimento da juventude e na promoção de uma cultura de liberdade e expressão. Quando a prefeitura apoia e financia esse tipo de evento, ela cumpre seu papel de servir a população e investir em iniciativas que refletem as identidades e necessidades dos cidadãos. Esse apoio deve ser constante e ampliado, para permitir que essas celebrações ocorram com mais frequência ao longo do ano, fortalecendo o movimento hip hop e o espaço de criação e resistência que ele representa”, defendeu o artista.

Edji, artista visual

Enquanto o mural era elaborado, o DJ Olig também começava seu set musical, que marcou o ritmo de quase toda a festa, incluindo a apresentação do grupo Embrazados Crew, que subiu ao palco em seguida para mostrar seus passos de dança Break. Augusto Silva, membro do grupo de dança, contou que a equipe foi formada em 2020 e hoje conta com 10 integrantes. 

Embrazados Crew

“Para nós, estar aqui significa expandir nossa arte para o público. O Break é uma dança que agora faz parte das Olimpíadas e agora está ganhando mais espaço no mundo, então viemos aqui para mostrar que nosso grupo também está construindo essa arte com o povo de São Cristóvão”, afirmou o dançarino.

Augusto Silva, integrante da Embrazados Crew

“1, 2, 3, RIMA!” Quando foi dada a largada para a batalha de rima Hip-Hop em Cena, todos os olhos e ouvidos se voltaram para os embates poéticos e politizados, que não só entreteram e engajaram o público, mas fizeram os espectadores refletirem sobre as discussões sociais abordadas nas falas dos artistas. A batalha, que contou com a presença de oito MCs, tinha seus ganhadores baseados nos votos dos jurados e da plateia, e o grande ganhador da noite, que passou invicto por todas as etapas, foi o MC Sheng, bicampeão no evento.

MCs da Batalha de Rima

“Eu acredito que nossa cultura precisa ser fomentada diante de eventos assim, porque em geral nós nos organizamos de forma independente, é muito corre, e termos esse apoio da prefeitura, pelo menos anualmente, é mais que necessário, é muito massa”, afirmou o rapper.

MC Sheng, bicampeão da Batalha de Rima Hip Hop em Cena

Após as batalhas de rimas, começaram os shows musicais. O público se encantou com a apresentação de Pérola Negra, que contou com participação especial de Ratturas, assim como se engajou na performance das Bruxas do Cangaço, presença tradicional do hip-hop sergipano. O encerramento do evento foi por conta do grupo Nine Senses, que, com mais uma demonstração de talento, embalou os fãs com o ritmo de seus sucessos.

Para Pérola Negra, o movimento do hip-hop é importante para que os seus participantes tenham novas perspectivas de vida: “Quando falamos que o hip-hop salva, não é só porque é uma arte e cultura que tira as pessoas da rua, mas que também tira a fome das pessoas. Estarmos aqui hoje na praça do Rosa Elze, que é um espaço cheio de diversidade e cultura, fazendo esse projeto há anos, é de grande importância para que possamos nos enxergar em outros locais, para vermos que a arte e cultura desta terra está sendo valorizada. Que os MCs e artistas são essenciais para a cultura local, porque sem a gente não existe São Cristóvão”, enfatizou a artista.

Pérola Negra, cantora e rapper

A participação do público foi uma atração à parte, primordial para o sucesso do evento. Sendo membro da comunidade do Rosa Elze, Zay, que estava atentamente assistindo as apresentações, ressaltou que é ainda mais relevante fomentar esse tipo de evento no mês da Consciência Negra. “O hip-hop é parte da nossa cultura negra, então acho muito importante ter esse tipo de mobilização para reunir nossa comunidade. Para mim está sendo incrível”, destacou.

Zay fez parte do público do evento

O movimento hip-hop

O hip-hop nasceu no bairro do Bronx, em Nova York, um local majoritariamente formado por comunidades negras, caribenhas e latinas. O marco inicial dessa cultura ocorreu em agosto de 1973, durante uma festa organizada por Clive Campbell, conhecido como Kool Herc, e sua irmã Cindy Campbell. Na ocasião, Kool Herc inovou a arte da discotecagem, tornando-se uma referência como DJ e dando início a um movimento que cresceria rapidamente. 

Esse evento foi um ponto de virada e, em 12 de novembro de 1973, a fundação da Nação Zulu consolidou a estrutura do hip-hop, promovendo seus quatro elementos fundamentais: breaking, DJ, MC e grafite. A Nação Zulu teve um papel importante em sistematizar a cultura hip-hop, utilizando-a como uma ferramenta para estimular a criatividade e oferecer alternativas à violência. 

O movimento, desde então, passou a ser uma plataforma para a reflexão crítica sobre questões sociais, como o funcionamento das instituições, a luta por igualdade racial e a disputa de classes. Essas reflexões, em grande parte, são conduzidas por membros de comunidades periféricas, que reverberam a cultura mundialmente, inclusive em São Cristóvão, mostrando a força do hip-hop como um meio de expressão e resistência.

Fotos: Heitor Xavier

Publicado por Clara Dias
Fotos por Heitor Xavier
Personalize suas opções de acessibilidade