28/12/2022

 “Melhor em Casa” aumenta atendimentos em 130% em três anos em São Cristóvão: conheça o programa e saiba quem tem direito ao serviço

Receber tratamento médico gratuito através do Sistema Único de Saúde (SUS) é uma conquista da população brasileira alcançada após muitos esforços. O SUS foi criado em 1988 através da Constituição e vem se aprimorando a cada ano, oferecendo cada vez mais serviços e possibilidades de tratamento à população.

Um desses serviços é o programa Melhor em Casa, que tem como objetivo realizar desospitalizações seguras e/ou evitar hospitalizações desnecessárias de pessoas que podem ser atendidas e cuidadas em seus domicílios pelas equipes de saúde dos municípios.

O programa foi implementado em São Cristóvão em março de 2020 e tem sido ampliado constantemente pela atual gestão. Segundo dados da secretaria de saúde do município, foram 590 atendimentos do programa em 2020, 1202 atendimentos em 2021 e 1418 atendimentos em 2022. Ou seja, em 3 anos o programa cresceu 130% em número de atendimentos.

Melhor em Casa - Atendimentos de 2020 para 2022 em São Cristóvão:

2020: 590 atendimentos

2021: 1202 atendimentos

2022: 1418 atendimentos

A proposta do programa é levar atendimento médico até as casas de pessoas que necessitem de acompanhamento multiprofissional semanalmente, evitando assim as filas dos serviços de urgência e emergência, e reduzindo o período de internação hospitalar e/ou internações desnecessárias, além de otimizar custos.

Equipe Melhor em Casa no Alto do Santo Antônio

Segundo Raíssa Stefaní, coordenadora do Melhor em Casa em São Cristóvão, o programa tem como principal objetivo a “desospitalização de pacientes acamados em quadro agudizado ou crônico agudizado, que com possibilidade de ficar no domicílio, necessite do acompanhamento da equipe médica e terapêutica com freqüência, além de também receber pacientes encaminhados das UBS’s com o mesmo quadro de hospitalização recorrente”. 

Pacientes são acolhidos e atendidos em domicílio

Um dos pacientes do Programa em São Cristóvão é Rafael Santos, 22 anos, que sofreu um acidente automobilístico em julho de 2021 e comprometeu o movimento das pernas. Segundo a coordenadora Raíssa, o quadro dele foi progredindo durante o tratamento realizado em seu domicílio até ele alcançar mais autonomia. Após receber alta, ele foi encaminhado para ser atendido apenas no Centro Especializado Raimundo Aragão, realizando tratamento de fisioterapia.

Coordenadora Raissa Stefaní e Rafal Santos

“A partir do momento que o paciente necessita apenas das terapias, saindo do processo de não mais precisar da equipe médica, enfermeira e técnico, ele é direcionado para o Centro de Especialidades para dar continuidade somente às terapias”, explica a coordenadora.

Rafael ainda precisa de uma cadeira de rodas para se locomover, mas já consegue ficar em pé e se sente bastante confiante na sua melhora. “O ano de 2022 foi de muitos desafios, mas devargarzinho estamos enfrentando, e com muita fé chegaremos lá. Não tenho nada a reclamar, pois o tratamento é maravilhoso. Tive acompanhamento de enfermagem, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, e avalio todos da equipe como nota 10”, relatou ele.

Rafael Santos

A figura do(a) cuidador(a)

 

Ao lado de Rafael está Dilma dos Santos, mãe de Rafael que durante o tratamento assumiu o papel de cuidadora, importante função do Melhor em Casa, geralmente assumida por um familiar que ajuda no tratamento do paciente. “Nenhuma melhoria é possível sem o comprometimento do cuidador com o tratamento, então treinamos, orientamos, e através de matriciamento com a unidade fechamos um comum plano terapêutico pra cada paciente. Assim, gostamos de dizer que, os pilares desse cuidado são: o Cuidador(a), Melhor em Casa e UBS”, explica a coordenadora Raíssa Stefaní.

As orientações são as mais diversas e dependem das necessidades do paciente, sendo dadas por toda a equipe médica que atende em domicílio. “Podem ser orientações para que se façam os curativos da melhor maneira no paciente, se for um paciente que precise ser aspirado o cuidador vai receber orientações da fisioterapeuta, se for algo relacionado à alimentação enteral a nutricionista mostra para a família como deve ser preparado o alimento e como ele deve ser administrado e dessa forma a gente consegue facilitar o cuidado”, exemplifica ela.

Rafael e sua mãe Dilma dos Santos

“Acho a equipe maravilhosa porque se não tivesse essa equipe e a gente tivesse que se deslocar até o posto de saúde ia ser muita dificuldade. Não temos transporte, a saída de casa não é fácil, então foi um grande desafio, mas fomos todos muito bem tratados em todos os momentos pela equipe”, afirmou Dilma dos Santos, mãe e cuidadora de Rafael.  “Me deram orientações, ficaram à disposição para que eu ligasse quando tivesse dúvidas, tinha todo o suporte. Agora com a fisioterapia o carro vem buscar ele, e está sendo maravilhoso também”, complementa ela.

No povoado Colônia Miranda, zona rural de São Cristóvão, Jaqueline Nascimento também assume o papel de cuidadora de seu filho Breno Nascimento. Ele sofreu um acidente ao mergulhar em um rio e tem recebido a equipe do Melhor em Casa durante sua recuperação. Para Jaqueline, o acidente foi algo inesperado e muito difícil de lidar, o que somente mudou com a presença da equipe médica em sua casa.

 Jaqueline Nascimento

“Enquanto eu estava só com ele foi muito difícil, mas depois do acompanhamento me sinto mais segura. Fui orientada a como lidar com ele, como cuidar dele, a parte do curativo, como limpar, fui aprendendo e hoje sei que foi muito importante a presença deles aqui em casa”, relata ela.

“O Melhor em Casa foi a melhor coisa que aconteceu minha vida e na minha do meu filho, tudo ficou mais tranqüilo e o tormento de levar ele às pressas para o hospital quando precisava acabou. Não sabíamos o que fazer e hoje temos todas as orientações necessárias. A equipe é muito atenciosa e o acompanhamento é excelente”, afirma.

Equipe Melhor em Casa, Breno Santos e sua mãe Jaqueline Santos

Para Breno, que também recebeu apoio psicológico do programa, a recuperação tem sido percebida a cada dia.“Só tenho a agradecer porque minha recuperação com a equipe agora é outra. Às vezes tínhamos que ir ao hospital às pressas, agora ligamos, mandamos mensagem e tenho sentido minha evolução. O apoio do psicólogo também foi importante. Se a mente não tiver boa, não conseguimos ir a lugar nenhum. Hoje minha mente está mais calma”, afirma Breno.

 

“Enquanto há vida, deve haver cuidado e respeito”

A frase foi dita pela coordenadora do programa e define bem o cuidado da equipe aos pacientes em estado mais delicado de saúde. Ela explica que nem todos os pacientes recebem alta, e às vezes o paciente evolui para óbito, o que acaba sendo uma realidade comum a ser encarada pela equipe do programa. Foi o caso do paciente Manoel da Costa que tinha sua irmã Valtrudes da Costa como cuidadora.

“Já havia cuidado antes de meu pai e minha mãe, e confesso que não é fácil estar nessa posição de cuidadora, porque a gente não está 100% preparada, mas a equipe me ajudou bastante. Fui bem atendida e meu irmão também. Quando eu precisava da equipe eles estavam aqui presentes e também ligando para saber como ele estava”, afirmou Valtrudes da Costa.

Valtrudes da Costa

Para Mayara Mirela Melo, enfermeira do Melhor em Casa que atendeu Manoel, é importante tanto oferecer como receber o acolhimento da família. “Foi muito gratificante estar aqui, nessa que foi minha primeira experiência prestando atendimento domiciliar. Manoel foi um paciente em que tivemos muito acolhimento, tanto dele como familiar. A equipe se sentiu muito acolhida e acredito que a família também”, relatou ela.

“Conseguimos desenvolver bem o papel de cada um enquanto profissional e colocar em prática o que preconiza o Melhor em Casa, nosso objetivo também, que é dar o conforto ao paciente. Esse era o caso de Manoel, o que ele precisava”, complementa a enfermeira.

Mayara Mirela Melo, enfermeira do Melhor em Casa e Valtrudes da Costa

Nesses casos, é importante lembrar que a equipe busca oferecer conforto e dignidade ao paciente através de um tratamento multiprofissional e humanizado, e possibilita também o atendimento psicológico tanto do paciente como do cuidador que o acompanha.

A atuação do psicólogo na atenção domiciliar

Além da equipe médica, de enfermagem, técnico de enfermagem, nutricionista e fisioterapeuta, o programa também conta com o profissional de psicologia, que atua na equipe multiprofissional do Melhor em Casa com a importante função de cuidar da saúde mental do paciente diante da sua enfermidade.

O profissional visita o paciente em sua casa de forma regular e possui um olhar amplo também para sua família e principalmente para o cuidador.“Damos esse suporte psicológico para atender essa demanda do programa. A função é cuidar da mente, do controle emocional, da resiliência do paciente, e trazer para a família esse contato, que muitas vezes é inesperado”, explica José Passos, psicólogo do Melhor em Casa em São Cristóvão.

José Passos, psicólogo 

“A família precisa muitas vezes resignificar esse contato para ajudar o paciente a viver, mesmo na sua enfermidade. É um processo em conjunto e o psicólogo tem esse cuidado de se comunicar com a família, e entender um pouco a história do paciente”, relata Passos.

O apoio psicológico em casa acaba se tornando um desafio tanto para a família como para o profissional, como relata Passos. “O psicólogo tem de se esvaziar, pois ele vai até a casa do paciente e é lá que vai ser o consultório dele. Ele tem de ser um profissional que goste de pessoas, que se sinta bem diante do paciente e da família. É um desafio mas é também muito salutar, sair das quatro paredes e ir até a comunidade ao encontro das pessoas que precisam de saúde mental”, finaliza ele.

 

Critérios para solicitar o atendimento domiciliar do Melhor em Casa

A necessidade de atendimento junto ao Melhor em Casa deverá ser informada à Unidade Básica de Saúde mais próxima, que avaliará se o paciente a ser beneficiado atende aos critérios do programa. Caso o paciente esteja em ambiente hospitalar, deve ser sinalizada à assistente social a existência do programa no município para o encaminhamento do paciente.  

Critérios para acesso ao serviço:

- Pacientes com quadro de saúde grave, que com possibilidade de ficarem no domicílio, necessitam do acompanhamento médico, enfermagem e técnico de enfermagem semanalmente para se manter estáveis;

- Pacientes com úlceras graves (feridas profunda) que precisem de acompanhamento para que haja recuperação e para que se evite que a mesma se torne porta de entrada para infecções grave.

- Pacientes que necessitem de antibióticos a serem aplicados através de via venosa.

- Estar acamado ou domiciliado (aquele paciente não tem condições físicas para ir fazer o atendimento no posto de saúde);

- Possuir cuidador(a) em tempo integral em casa (capaz e maior de 18 anos);

- Ter residência livre de riscos que propicie segurança no lar e condições salubres para a equipe e o paciente (o local deve favorecer a facilidade de deslocamento em situações de emergência)

- Ser classificado nas modalidades Ad2 ou Ad3 (ou seja, uso de traqueostomia, uso de cateter vesical de demora, presença de lesão por pressão, entre outros).

Para mais informações sobre o Programa Melhor em Casa em São Cristóvão envie um email para melhoremcasasc@gmail.com, ou se informe na Unidade Básica de Saúde mais próxima de casa.

Fotos: Dani Santos

Publicado por Erna
Fotos por Dani Santos
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